Minha barriga é o poder

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A barriga é proibida. Perseguida. Alvo de artilharia e de armas químicas. A guerra contra a barriga é antes de tudo uma guerra contra o ser mulher. Qualquer que seja sua forma ou tamanho, é na barriga das mulheres que nasce a vida, o riso, a criação. Amar a barriga é transgressor. É um ato revolucionário de cura.

Dentro e fora do padrão, somos ensinadas desde cedo a ocuparmos o mínimo possível de espaço. Meu lugar no mundo é este aqui: pontuado pelo escuro do meu umbigo. Cobrir e esconder o volume que o meu corpo ocupa não reduz meu tamanho no espaço. É o corpo que delimita a parte que me cabe, ínfima e imensurável. A barriga é luminosa.

Sou uma mulher mas sou também muitas. A barriga lembra. Trespassada pelo plexo solar, ela catalisa o poder pessoal, a consciência visceral. Dela vem uma força ancestral de movimento e de vitalidade pura, selvagem. A barriga é inteligente e também sensível. A barriga quer ser amada.

É na barriga que a intuição me agarra, que o friozinho do desejo verdadeiro me estremece. É dentro dela que aquilo que me nutre borbulha lentamente para alimentar minhas criações. A barriga é uma usina de transformação. Um portal entre o imaterial e o material. Mais do que permitida, a partir deste momento eu declaro que a barriga é sagrada. Ungida com óleo e carícias, nutrida de sementes e calor.

Uma vez, quando eu era criança e não tinha medo de pedir o que eu queria, um homem perguntou se eu tinha o rei na barriga. Quando lembro dele me dá vontade de voltar pra corrigir: rei não. Restaurada sua glória inequívoca, a barriga retoma seu trono. Aqui. Esta barriga é minha. Dentro dela, uma rainha.

A barriga é revolucionária.

por Mariana Bandarra